No seu retorno ao Flamengo, Liedson traz na bagagem antigas histórias de uma vida de origem humilde. Na adolescência, ele foi empacotador de supermercado, ajudante de pintor e de pedreiro, carpinteiro, auxiliar de mecânico, porteiro de hospital e carregador de malas em hotel. Com o primeiro salário na carteira assinada, ele realizou um singelo, porém, significativo sonho: comprou, em parcelas, uma camisa do Flamengo, seu time de coração. Após a passagem pela Gávea em 2002, ele se projetou no futebol, foi para Europa, virou ídolo no Sporting, se naturalizou português e disputou a Copa do Mundo de 2010. Dez anos depois, o atacante retorna ao Rubro-Negro realizado financeiramente e disposto a retribuir tudo que o clube lhe proporcionou, com juros e correção monetária.
- No meu primeiro emprego de carteira assinada eu ganhava o que hoje equivale a R$ 100, quem quiser pode conferir (risos). Sempre fui torcedor do Flamengo, desde criança. Eu queria comprar uma camisa, sonhava com isso, mas era muito cara. Com o primeiro salário que ganhei, fui à loja, dividi em cinco, seis vezes, e consegui comprar – revelou Liedson.
Na alegria ou na dureza, era apenas o começo da relação com o Flamengo. O atacante é filho de uma família humilde de Valença, cidade que fica a cerca de 260 quilômetros de Salvador. O pai era pescador, a mãe cuidava da casa e, desde cedo, Liedson teve que ajudar a completar o orçamento. O sonho do futebol só virou realidade tardiamente.
Liedson jogava bola apenas em peladas e times amadores. Somente aos 22 anos, o atacante chegou ao Poções-BA, onde fez um teste depois de se destacar em um torneio intermunicipal em Salvador, quando foi artilheiro, com 14 gols em 15 jogos. Assinou seu primeiro contrato profissional, passou por Prudentópolis-PR e chegou ao Inter de Santa Maria-RS, de onde foi dispensado por ser franzino. Parecia o fim, mas era apenas o começo do jogador que chegou a receber o apelido de Levezinho durante a carreira.
- Comecei tarde no futebol, mas posso me orgulhar de ter uma carreira brilhante. Estou de volta ao Flamengo, de corpo e alma – disse Liedson, na sua apresentação nesta terça-feira, com a humildade e simplicidade que marcam sua carreira.
Em 2002, o atacante acertou com o Coritiba e foi artilheiro da Copa Sul-Minas, com 14 gols. No mesmo ano, chegou ao Flamengo, e marcou 15 vezes em 29 jogos. Foi a senha para se transferir para o Corinthians. Depois, rompeu as fronteiras do Brasil e virou ídolo do Sporting, de Portugal. Em terras lusitanas, foi artilheiro em duas temporadas, disputou 313 partidas e marcou 172 gols. Naturalizado, em 2010 disputou a Copa do Mundo da África do Sul.
- Em 2002, cheguei ao Flamengo ainda desconhecido, vindo do Coritiba. Tive uma projeção fantástica, apareci não só para o Brasil, mas para a Europa também. Foi um reconhecimento grande, o Flamengo me ajudou em tudo que conquistei na minha vida, salários, títulos. Sempre foi um clube que me ajudou, espero retribuir.
Através da bola, Liedson conseguiu sua independência financeira, ajuda a família e tem alguns luxos como carros, roupas de marca, cordão de ouro. Mas sem a ostentação comum entre os boleiros. A fala continua mansa. Aos 34 anos, com três cirurgias no joelho esquerdo, o atacante diz que não está bichado. E, acostumado a vencer adversidades, promete trabalho duro para dar alegrias à torcida rubro-negra.
O menino pobre, que comprou a camisa do seu clube de coração em parcelas, hoje tem o direito de escolher até o número que irá usar. Filho de um homem que retirava seu sustento do mar, Liedson jamais foi um pescador de ilusões. O jogador carregou malas, mas jamais empacotou seus sonhos. A camisa 31 do Flamengo é dele. E isso não tem preço.
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